sábado, 20 de junho de 2015

Você é justo?



A TANGERINA, O SABIÁ E O SITIANTE
 

Era manhã de sábado, um dia frio de inverno, quando o sitiante chegou animado para colher Tangerina no pé.

Pegou o catador de frutas, mirou bem em direção à maior e mais madura, que estava no galho mais alto da frutífera arvore. Sua boca salivava, seus olhos brilhavam e sua vontade de saborear a Tangerina aumentava progressivamente.

Esticou-se todo, ficou na ponta dos pés, cutuca daqui e puxa dali, com muito custo conseguiu arrancar a exuberante tangerina.

Ao retirá-la do cesto, para sua surpresa a Tangerina estava vazia, sem um gominho se quer. Era só casca. De um lado toda perfeita, brilhante e amarelinha e do outro um buraco bem feito.

Seu rosto murchou, sua alegria sumiu e suas expectativas frustraram. Só tinha um pensamento, foi o Sabiá quem chupou sua Tangerina. E rapidamente saiu à procura do Sabiá pelas arvores do sítio.  Logo o encontrou, lá estava ele, cantando e feliz.

O Sitiante sentindo-se traído, começou a interroga-lo: Como ele podia ter comido a melhor Tangerina do seu pé?  Pois sempre deu liberdade ao Sabiá para desfrutar do seu Sítio, que o protegia e que jogava migalhas de pão para ele. Então porque ele comera a maior e a mais madura das Tangerinas?

O Sabiá, humildemente respondeu: Fui atraído, pelo aroma, pela cor e pelo tamanho, apenas segui meu instinto. Perdoa-me Senhor!

Mas o Sitiante foi implacável, não considerou o pedido de desculpas e expulsou o Sabiá, dizendo-lhe para procurar outra arvore para viver.

Num voo melancólico, saiu em disparada o Sabiá, rumo ao sitio vizinho. Pousou em outro pé de Tangerina e lá ficou sentindo-se injustiçado pelo Sitiante, que não compreendeu sua natureza.

No dia seguinte, ao acordar o Sitiante percebeu que perdeu a hora, e se deu conta de que, quem o despertava era o Sabiá. Dirigiu-se ao pomar e ouviu a voz do vizinho oferecendo Tangerina ao Sabiá, que prontamente começou a cantar uma melodia de contentamento.

Naquele instante o Sitiante, que acreditava ter sido injustiçado, descobriu que o grande buraco, não era aquele feito pelo Sabiá em sua Tangerina, mas sim o vazio em seu coração. Que dentro dele carecia de compreensão e respeito à natureza de cada um, mas principalmente gratidão, pela contribuição que cada Ser dá, segundo sua capacidade.

Metáfora escrita por Dulce Campos

20/06/2015