A TANGERINA, O SABIÁ E O SITIANTE
Era manhã de sábado, um dia frio de
inverno, quando o sitiante chegou animado para colher Tangerina no pé.
Pegou o catador de frutas, mirou bem
em direção à maior e mais madura, que estava no galho mais alto da frutífera
arvore. Sua boca salivava, seus olhos brilhavam e sua vontade de saborear a Tangerina
aumentava progressivamente.
Esticou-se todo, ficou na ponta dos
pés, cutuca daqui e puxa dali, com muito custo conseguiu arrancar a exuberante
tangerina.
Ao retirá-la do cesto, para sua
surpresa a Tangerina estava vazia, sem um gominho se quer. Era só casca. De um
lado toda perfeita, brilhante e amarelinha e do outro um buraco bem feito.
Seu rosto murchou, sua alegria sumiu
e suas expectativas frustraram. Só tinha um pensamento, foi o Sabiá quem chupou
sua Tangerina. E rapidamente saiu à procura do Sabiá pelas arvores do sítio. Logo o encontrou, lá estava ele, cantando e
feliz.
O Sitiante sentindo-se traído,
começou a interroga-lo: Como ele podia ter comido a melhor Tangerina do seu
pé? Pois sempre deu liberdade ao Sabiá
para desfrutar do seu Sítio, que o protegia e que jogava migalhas de pão para
ele. Então porque ele comera a maior e a mais madura das Tangerinas?
O Sabiá, humildemente respondeu: Fui
atraído, pelo aroma, pela cor e pelo tamanho, apenas segui meu instinto.
Perdoa-me Senhor!
Mas o Sitiante foi implacável, não
considerou o pedido de desculpas e expulsou o Sabiá, dizendo-lhe para procurar
outra arvore para viver.
Num voo melancólico, saiu em
disparada o Sabiá, rumo ao sitio vizinho. Pousou em outro pé de Tangerina e lá
ficou sentindo-se injustiçado pelo Sitiante, que não compreendeu sua natureza.
No dia seguinte, ao acordar o
Sitiante percebeu que perdeu a hora, e se deu conta de que, quem o despertava
era o Sabiá. Dirigiu-se ao pomar e ouviu a voz do vizinho oferecendo Tangerina
ao Sabiá, que prontamente começou a cantar uma melodia de contentamento.
Naquele instante o Sitiante, que
acreditava ter sido injustiçado, descobriu que o grande buraco, não era aquele
feito pelo Sabiá em sua Tangerina, mas sim o vazio em seu coração. Que dentro
dele carecia de compreensão e respeito à natureza de cada um, mas principalmente
gratidão, pela contribuição que cada Ser dá, segundo sua capacidade.
Metáfora escrita por Dulce Campos
20/06/2015
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